quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Desassossego



Sinto, por vezes, que estou sendo levada por uma enxurrada furiosa que não se detém ante obstáculos , seguindo ruidosa seu curso desgovernado para destino desconhecido. Não é pesadelo ou qualquer fato semelhante. Pra meu lamento, é a realidade de bocarra escancarada num esgar irônico a me deixar atônita, quase paralisada. Quase... sim, porém, não totalmente e, reajo com ímpeto, com revolta, com fé, refutando com vigor tais fatos aterroradores, me ancorando na crença de que ainda há consciência humana nos seres de igual adjetivo.

Vou lançar minha voz , meu empenho, meu credo para além das fronteiras físicas e me filiar  a todos que como eu, crêem que um mundo mais humano é possível, é viável.

Às vésperas do dia Professor, encara-se uma tragédia humana desproporcional como todas que lhe são assemelhadas e nos deparamos com mais uma barbárie tenebrosa a nos tirar o chão reduzindo nossa compreensão diante do sucedido onde perguntamos: "porquê?"

Não há resposta, creio eu. Podemos, no muito, confortarmo-nos com algumas poucas reflexões pinceladas a darem um vislumbre sobre a causa, mesmo assim, sou descrente que desta se encontre qualquer explicação plausível.

Lendo um artigo da filósofa-pensadora norte-americana, Martha Nussbaum, conhecida por defender um ensino permeado de humanidades, encontrei alinhamento para meus pensamentos sobre este e muitos outros fatos recentes da nossa triste história urbana.Diz ela: 

" Faço distinção entre empatia e compaixão - e é de compaixão que precisamos. Empatia é só a habilidade de pensar como é estar no lugar do outro. Não é moral...Compaixão diz que os obstáculos enfrentados pelo próximo são ruins. Podemos senti-la sem imaginar a vida do outro, como quando nos compadecemos de animais."

A citada filósofa permeia seu trabalho em áreas da antropologia,da psicanálise e da sociologia na busca pela eudaimonia, palavra grega que representa uma vida plena e próspera.

 Constatar o quanto nossa realidade está longe deste ideal me assusta, mas também não paralisa.Posso ser tachada de Pollyana, posso ser considerada ingênua, não temo nada disso. Antes ser quixotesca e avançar como puder contra os  moinhos empedernidos em descalabros e  desumanidades , do que encolher-me chorosa e desesperançada.





9 comentários:

  1. Olá, querida amiga Calu!
    Vivemos uma situação vertiginosa em nosso país e temos todos tipos de atrocidades em termos da nossa vocação...
    Uma professora vocacionada que morre queimada por lutar pela vida dos seus pupilos...
    Alunos que estão à mercê de tudo dentro das escolas...
    Enfim, podemos mencionar causas e mais causas de tanta desassossego da nossa parte mas, mesmo sendo árduo o caminho, nossa profissão/vocação é de uma boa índole que ultrapassa todo tipo de barreira e preconceito...
    É puro amor! Gestado em nosso embrião em formação... só asim se jutifica todo processo intuitivo de querer ser mestre hoje em dia...
    Sem nenhum estímulo a não ser o da gestação amorosa com a qual fomos tecidas e revestidas de todas as forças para combater ações inescrupulosas da sociedade como um todo.
    Lindo post e com tamanha profundidade que as palavras para comentar escasseam, minha irmã de mérito.
    Se tivesse que escolher de novo, sem dúvica alguma escolheria ser professora e não me perco em desesperança pois a fé move montanhas de todo tipo...
    Seja muito feliz e abençoada!
    Bjm de paz e bem pelo nosso dia

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  2. Beleza de texto e as coisas andam bem feias mesmo.Acontecimentos tristes, uma professora heroína agora, mas tantas outras o são no dia a dia ...Mesmo assim, não podemos nos desencantar com tudo..Temos que seguir, esperar ,tomara as coisas possam melhoras! Precisamos e muito! Obrigadão pelo carinho com Neno! bjs, chica

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  3. Querida Calú, que texto maravilhoso.As vezes me pergunto q futuro terá estes jovens Brasileiros? Vivendo tanto tempo fora,sinto uma tristeza imensa .Vejo q cada dia está pior em tudo, nossa Tropicalia.E eu prefiro guardar dentro de mim o q melhor vivi da Tropicalia.A bossa nova,a nossa beleza natural,os bons amigos,a família.. Lamentável.Beijinhos

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  4. Oi, Calú, há força em seu texto, em suas palavras e em sua intenção - que saiba,é capaz de mover o mundo. Muito bela a definição de compaixão, podemos ser empatia pelo outro e não fazer nada a respeito disso, o que torna um sentimento, vão. A compaixão e transcendente.
    Sim, também sou tal Pollyana e acredito em um mundo pleno e próspero especialmente, de amor. Abraços!

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  5. Coincidência ou não, Cervantes e o seu utópico cavaleiro são meus companheiros de cabeceira e com eles tenho adormecido nas últimas semanas.
    Deixo um pensamento sobre este assunto, precisamente inspirado nessa dupla admirável: "Mudar o mundo, meu amigo Sancho, não é loucura, não é utopia, é justiça!" Que sejamos muitos a imaginar um mundo melhor.
    Beijinhos querida Calu
    Ruthia

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  6. Boa tarde, querida Calu
    Gostei de ler o seu texto tão verdadeiro.
    É muito triste tudo que está acontecendo.
    Quero te parabenizar pelo Dia dos Professor.
    Um forte abraço e beijinhos neste domingo.
    Com carinho de
    Verena e Bichinhos.

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  7. Oi Calu
    Nos assustamos diante de tanta barbárie e, no primeiro momento nos encolhemos pelo terror, mas reagimos, pois sem esperanças a vida perde seu rumo. Junto- me a você nesta empreitada,

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  8. Pois é Calu, assim como na política, parece que há uma teia ardilosa, que está sempre a nos prender e nos colocar em mais uma reflexão, sobre o que leva o ser a tamanha atrocidade.Nem se pode dizer que há uma animalização irracional do ser, que talvez só com aprofundamento de psicanalise encontremos um fio deste novelo. No momento que leio aqui, já estou aterrorizado com o recente caso do aluno que executa colegas em plena sala de aula.
    É muito triste e traumatizante o que vivemos, como uma onda de medo e terror estivesse sendo instalada. Perdemos amiga a tão sonhada paz e segurança, como se não tivesse mais retorno.
    Enfim maravilhosa sua rica postagem com todas as figuras ilustrativas que forram o momento que vivemos e que busca nos roubar a esperança de ver aquela manhã onde cantaremos uma linda canção pela paz. Mas não roubarão!
    Perfeitas colocações.
    Compartilho.
    Abraços
    Bjs de paz amiga.

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  9. Mais uma excelente reflexão... e porque vivemos num mundo, cada vez mais superficial, de acontecimentos rápidos... constata-se que compaixão e empatia, são cada vez mais difíceis de desenvolver... pois tal implica tempo e profundidade, nas relações humanas... que na grande maioria, serão demasiado voláteis, para tal...
    Como sempre, um post, com um tema muito bem desenvolvido!...
    Beijinho
    Ana

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Teu comentário é o fractal que faltava neste mosaico.
Obrigada por tua presença querida!